quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Vaidade

Sabemos que aparência física não é tudo, mas um cabelo bonito muda muita coisa: aumenta a auto estima, dá brilho aos olhos, motiva o emagrecimento etc etc etc. Coloquei aplique dia 25 de janeiro de 2011, depois de meses sonhando com isso. Estou recebendo muitos elogios, até de mim mesma rsrs...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Operário em Construção (Vinicius de Moraes)

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento

Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse eventualmente
Um operário em construcão.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma subita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: a gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Nao sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua propria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele nao cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Excercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edificio em construção
Que sempre dizia "sim"
Começou a dizer "não"
E aprendeu a notar coisas
A que nao dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uisque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução

Como era de se esperar
As bocas da delação
Comecaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação.
- "Convençam-no" do contrário
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isto sorria.

Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado
Sua primeira agressão
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Porém, por imprescindível
Ao edificio em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que ver
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário
Que olhava e refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Nao vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martirios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construido
O operário em construção

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Arte de Amar (Manuel Bandeira)

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Quer pouco, terás tudo (Fernando Pessoa)

Quer pouco, terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Tu eras também uma pequena folha (Pablo Neruda)

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Esta manhã encontrei o teu nome (Maria do Rosário Pedreira)

Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Na generalidade (Sanders)

Na generalidade, é claro, [as pessoas] representam o papel que a sociedade espera delas:
Casam, trabalham, tem filhos, fundam um lar, votam, tentam mostrar-se perfeitas e respeitar as leis.

Mas cada uma delas - homems, mulheres, crianças - possui uma vida secreta da qual raramente falam e que quase nunca chegam a revelar.

E esta vida secreta, para cada um de nós, encontra-se povoada de fantasias ardentes, necessidades incriveis e desejos sufocantes que não são vergonhosos em si, mas que nos ensinaram a considerar como tal...

sábado, 1 de janeiro de 2011

Nunca serão...

Clipe de "Nunca Serão" é assinado por José Padilha, também diretor do filme

O rapper Gabriel o Pensador fez uma música inspirada no filme "Tropa de Elite 2". Intitulada "Nunca Serão", a faixa acaba de ganhar um clipe, assinado pelo próprio diretor do filme, José Padilha.
A letra é uma conversa fictícia entre o próprio Gabriel e o Capitão Nascimento, policial vivido por Wagner Moura no longa. É o primeiro clipe dirigido por Padilha.

Veja a letra de "Nunca Serão":
"(...) esse país tá fodido
ele falou "eu sei disso
quando eu entrei na PM, eu assumi um compromisso, eu luto pela justiça"
eu também
sem justiça não tem paz e sem paz eu sou refém
a injustiça é cega e a justiça enxerga bem
mas é quando convém
a lei é do mais forte, no BOPE ou na FEBEM
na boca ou no Supremo
que justiça a gente tem, que justiça nós queremos?
Os corruptos cassados?
Nunca serão!
cidadãos bem informados?
Nunca serão!
Hospitais bem equipados
Nunca serão! Nunca serão!!
Os impostos bem usados?
Nunca serão!
os menores educados?
Nunca serão!
todos alfabetizados?
Nunca serão! Nunca serão!!
capitão, não sei se você soube dessa história
que rolou num povoado peruano se não me falha a memória
um político foi morto pelo povo
um corrupto linchado por um povo que cansou de desrespeito
e resolveu fazer justiça desse jeito
foi um linchamento, foi um mau exemplo
foi um mau exemplo mas não deixa de ser um exemplo
eu sou contra a violência mas aqui a gente peca por excesso de paciência
com o "rouba mas faz" dos verdadeiros marginais
chamados de "doutor" e "vossa excelência"
cujos nomes não preciso dizer
a imprensa publica, mas tudo indica que a justiça não lê
capitão, isso é um serviço pra você
Deputado! pede pra sair!
pede pra sair, deputado!
Senador, pede pra sair!
Vagabundo, cadê o dinheiro que você desviou dessa obra aqui?
Fala, V. Excelência, é melhor falar!
Cadê a verba da merenda que sumiu?
02, o corrupto não quer falar não! Pode pegar o cabo de vassoura!
(Tá bom, eu vou falar, eu vou falar!)
Conversei com o Nascimento que não pensa como eu penso mas pensando nós chegamos num consenso
nós somos vítimas da violência estúpida que afeta todo mundo, menos esses vagabundos lá da cúpula corrupta hipócrita e nojenta
que alimenta a desigualdade e da desigualdade se alimenta
mantendo essa política perversa
que joga preto contra branco, pobre contra rico e vice-versa
pra eles isso é jogo, esse é o jogo
se morre mais um assaltante ou mais um assaltado, tanto faz
pra eles não importa, gente viva ou gente morta
é tudo a mesma merda
os velhos nas portas dos hospitais, as crianças mendigando nos sinais
pra eles nós somos todos iguais
operários, empresários e presidiários e policiais
nós somos os otários ideiais
enquanto a gente sua e morre
só os bandidos de gravata seguem faturando e descansando em paz
enquanto esses covardes continuam livres, nós só temos grades
liberdade já não temos mais"

http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/musica/gabriel+o+pensador+faz+musica+inspirada+em+tropa+de+elite+2/n1237830028587.html