Aqui estou, no sofá de minha casa, escrevendo livremente.
Sábado passado, dia 17/03/2012, tivemos mais um encontro do genpex. O primeiro do ano. Todos nós temos múltiplos afazeres e às vezes não queremos nos deslocar até a UnB (para mim são 40 km) para a reunião.
Cheguei angustiada, buscando no grupo a oxigenação que sempre encontro/recebo/compartilho. Angustiada, deprimida pela experiência de mais uma greve dos professores da rede pública do Distrito Federal. No sábado já contávamos com uma semana de greve. Além das perspectivas não serem boas devido ao argumento do governo de que não pode cumprir o acordo por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal, carrego uma mágoa para com as colegas professoras que não aderiram ao movimento em minha escola. Uma situação muito ruim. Ouvi argumentos delas que para mim são muito mesquinhos... Isso me angustia...
Eu estava no lugar certo, com as pessoas certas. A reunião foi acontecendo e as coisas melhorando. Tomei a decisão certa: sair de casa e ir ao encontro dos “meus”!
“Juju”, nossa querida Julieta, brilhante coordenadora da reunião, após uma breve dinâmica que ajudou a soltar/movimentar os corpos e afastar os fantasmas da alma, falou da proposta de fazermos rodízio, criarmos duplas para coordenar e relatar os encontros do Genpex/Mantendo a Caminhada até o final do ano. Com isso não haveria sobrecarga para ninguém, além de que as pessoas pensariam também em trazer dinâmicas para tornar os encontros mais prazerosos.
Nesse instante eu fui tocada e quis falar. Achei brilhante a proposta! Concordei e disse que além de tirar a sobrecarga de algumas pessoas, isso ainda ia oportunizar o trabalho e a contribuição a outras pessoas. Daí eu desabafei que desde quando eu havia desistido do mestrado, em 2005, sentia cada vez mais dificuldade de voltar. E ainda mais dificuldade em produzir conhecimento. Não me via nem de longe escrevendo artigos. Quando se falava em artigos nas reuniões do grupo eu me fechava mais e mais. Só não deixava de vir aos encontros porque amo as pessoas e me sinto sempre bem junto delas. E a linda Nirce me olhava e dizia “amo você”!
Continuei falando, foi uma descarga... Nossa, que alívio! Professor Renato Hilário me olhava calmamente e eu dizia “ai, não me olhe assim”. Mas ele não estava me cobrando nada. A cobrança era minha. É minha!
Falamos sobre isso. Juju falou que podemos fazer um trabalho sobre essa questão da dificuldade de produção do conhecimento, que todo mundo vivencia. Guilherme falou que temos que aprender a lidar com isso e vencer, pois não podemos ficar travados para sempre.
Falamos das frentes de atuação das pessoas do grupo, que atualmente são 5. Não vou detalhar aqui porque me faltam dados... Lembro da questão Proeja Transiarte, com a Juju, tema de seu mestrado, a integração da EJA com a educação profissional, em Ceilândia. Em Brazlândia, a inserção da Nirce com catadores de lixo e a construção do minhocário, que atualmente está em “stand by” porque os catadores querem, mas querem pronto... A risonha Jaqueline, junto com a Nirce, com os jovens em semi liberdade em Taguatinga na tentativa de fazer vídeos sobre a dura realidade. O Paranoá e o Arapuã com a alfabetização de jovens e adultos.
Abro parênteses para falar da discussão interessante que fizemos quando falamos da frente de atuação em Taguatinga, com os jovens em semi liberdade. Colegas relataram a dificuldade de entrar na instituição e começar a realizar o trabalho lá. Os brilhantes colegas policiais presentes, Davi e Nascimento, que realizam um trabalho de aproximação da polícia militar junto à comunidade, e são formados professores, disseram ter conhecimento dessas dificuldades. Muitas vezes sabemos, por exemplo, que para pedir autorização de uso da imagem de um jovem, devemos nos reportar à Vara da Infância e Juventude ou ao Ministério Público, mas se isso é feito antes de se reportar às “autoridades” dentro da própria casa que abriga os menores, tudo depois é dificultado. Questões de vaidade que impedem, dificultam o trabalho e fazem com que tenhamos que ter muito jogo de cintura...
Stella estava explicando a experiência do Paranoá e eu pedi a ela para fazer um parêntese. Queria destacar o que eu acho ímpar naquele trabalho. Falei do começo. De como a luta pela ocupação/permanência no Paranoá fez com que os moradores percebessem que era preciso alfabetizar a comunidade. Que os jovens, alguns pertencentes à igreja, organizados socialmente, vieram à UnB dizer que queriam ajuda para alfabetizar a população, mas que não queriam um B-A-BÁ qualquer. Queriam uma alfabetização pautada na discussão dos problemas vividos no dia a dia. E assim acontece até hoje, tendo se expandido bastante por todo o Paranoá e Arapoã. Eu disse que ter participado dessa experiência enquanto graduanda de pedagogia em 1991 foi muito significativo profissional e pessoalmente. E o é até hoje!
Fizemos o cronograma com as datas e as duplas/trios organizadores de cada encontro.
Eu tinha que sair um pouco antes, pois tinha um compromisso religioso. Já tinha avisado antes. Fui me levantando, deixei um abraço a todos. Estava me sentindo muito, mas muito melhor, mais fortalecida! Já fui dizendo: “Gente, vou chegar em casa e tirar minha pasta do mestrado do fundo da gaveta!”. Estava louca pra chegar em casa e pegar minhas coisas, ler, escrever um pouco! Queria fazer isso logo, enquanto trazia a energia das pessoas maravilhosas do Genpex/Mantendo a Caminhada!
Professor Renato Hilário levantou-se, interrompendo a reunião e me abraçou! Que gostoso! Também o colega policial, que eu acabara de conhecer, veio me abraçar! Ai, que energia boa! O outro policial (eu ainda não sei quem é Davi, quem é Nascimento rsrsrsrsrs) disse que depois da minha fala sobre o Paranoá, se eu não voltar a escrever ele ia em minha casa... rsrsrs. Mári me abraçou! Nirce mandou beijos! Todo mundo me deu um pouco daquela energia que me renovou!
Era para eu ir da UnB direto para o compromisso com as crianças no Centro Espírita, mas eu quis passar em casa para pegar minha pasta do mestrado e deixar dentro do carro. Se tivesse um tempinho, qualquer que fosse, eu pegava minhas coisas. Se não desse para ler, pelo menos eu olhava, tocava, sentia...
No dia seguinte, domingo dia 18/03/2012, tive corrida de orientação, meu esporte querido. Saí de Valparaíso e fui correr em Planaltina-DF. A pasta com as coisas do mestrado estava dentro do carro, mas não tive concentração nem tranquilidade para pegar em nada enquanto esperava minha largada... E depois de e horas no meio do mato, eu estava arriada... Fui almoçar com meus filhos na casa de meus pais e voltei para casa. Um pouco de insolação e muito cansaço não me deixaram ler, mais um dia...
Hoje, segunda feira, 19/03/2012, estou aqui no sofá escrevendo... A pasta está aqui a meu lado. Já toquei, senti... Quis primeiro escrever este texto. Agora vou voltar nela, na pasta. Daqui a pouco vou à academia. Vou escolher alguma coisa e levar para ler na bicicleta... Só não vai dar para escrever...
Forte abraço e muito obrigada ao grupo Genpex/Mantendo a Caminhada
Suzana Prado