Mulher, mãe, professora, amante da corrida de orientação, nadadora, em luta com a balança...
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Sei os teus seios (Alexandre O'Neill)
Sei os teus seios. Sei-os de cor. Para a frente, para cima, Despontam, alegres, os teus seios. Vitoriosos já, Mas não ainda triunfais. Quem comparou os seios que são teus Banal imagem a colinas! Com donaire avançam os teus seios, Ó minha embarcação! Porque não há Padarias que em vez de pão nos dêem seios Logo pla manhã? Quantas vezes Interrogaste, ao espelho, os seios? Tão tolos os teus seios! Toda a noite Com inveja um do outro, toda a santa Noite! Quantos seios ficaram por amar? Seios pasmados, seios lorpas, seios Como barrigas de glutões! Seios decrépitos e no entanto belos Como o que já viveu e fez viver! Seios inacessíveis e tão altos Como um orgulho que há-de rebentar Em deseperadas, quarentonas lágrimas... Seios fortes como os da Liberdade -Delacroix-guiando o Povo. Seios que vão à escola pra de lá saírem Direitinhos pra casa... Seios que deram o bom leite da vida A vorazes filhos alheios! Diz-se rijo dum seio que, vencido, Acaba por vencer... O amor excessivo dum poeta: "E hei-de mandar fazer um almanaque da pele encadernado do teu seio"Gomes LealRetirar-me para uns seios que me esperam Há tantos anos, fielmente, na província! Arrulho de pequenos seios No peitoril de uma janela Aberta sobre a vida. Botas, botirrafas Pisando tudo, até os seios Em que o amor se exalta e robustece! Seios adivinhados, entrevistos, Jamais possuídos, sempre desejados! "Oculta, pois, oculta esses objectos Altares onde fazem sacrifícios Quantos os vêem com olhos indiscretos" Abade de JazenteRaimundo Lúlio, a mulher casada Que cortejaste, que perseguisteAté entrares, a cavalo, pla igreja Onde fora rezar, Mudou-te a vida quando te mostrou "É isto que amas?" De repente a podridão do seio. Raparigas dos limões a oferecerem Fruta mais atrevida: inesperados seios... Uma roda de velhos seios despeitados, Rabujando, A pretexto de chá... Engolfo-me num seio até perder Memória de quem sou... Quantos seios devorou a guerra, quantos, Depressa ou devagar, roubou à vida, À alegria, ao amor e às gulosas Bocas dos miúdos! Pouso a cabeça no teu seio E nenhum desejo me estremece a carne. Vejo os teus seios, absortos Sobre um pequeno ser
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